A figura do “vice decorativo” não é regra na política brasileira no período posterior à redemocratização. Michel Temer é o melhor exemplo disso. Autor da expressão, ele não apenas deixou de ajudar Dilma Rousseff na relação com o Congresso como passou a trabalhar ativamente para tirá-la do poder, como mostrou uma reportagem de VEJA publicada em novembro de 2015, um mês antes de Eduardo Cunha, então comandante da Câmara dos Deputados e aliado de Temer, determinar a abertura do processo de impeachment da petista. Itamar Franco não participou de conspirata, mas, antes da destituição de Fernando Collor, pregava abertamente sua renúncia. No governo atual, o general Hamilton Mourão vive escanteado — não por opção pessoal, mas por ser considerado uma sombra perigosa pela família Bolsonaro, que, desconfiada por natureza, acha que ele já cobiçou a cadeira de presidente. Decorativos mesmo só José Alencar, vice de Lula, e Marco Maciel, o discreto parceiro de Fernando Henrique Cardoso. Devido a esse histórico e a outras razões, a escolha para o posto de número 2 na hierarquia da República é estratégica.
Favoritos para a eleição de 2022, o presidente Jair Bolsonaro e seu antecessor Lula sabem da importância da função e já estão em campo prospectando nomes e cenários. Como ensina a cartilha, ambos querem um candidato a vice que agregue valor à chapa. Pode ser em votos. Ou pode ser na construção de uma imagem, por exemplo, mais ou menos moderada. Na busca de um companheiro de chapa, o desafio do ex-capitão, em virtude de sua personalidade, parece mais complicado. Adepto de teorias da conspiração, Bolsonaro prefere escolher para vice alguém de sua estrita confiança, um bolsonarista raiz que não tenha relação com o Congresso, o que dificultaria a vida do escolhido caso esse passasse a flertar com a ideia de derrubar o presidente reeleito. Parece um excesso de precaução, mas faz sentido na lógica de quem vê conspiradores por todos os lados e demitiu ministros com gabinete no Palácio do Planalto por suspeitar de traição. Bolsonaro pode optar por essa solução se a aprovação popular a seu governo melhorar e ele recuperar terreno nas pesquisas de intenção de voto.
A figura do “vice decorativo” não é regra na política brasileira no período posterior à redemocratização. Michel Temer é o melhor exemplo disso. Autor da expressão, ele não apenas deixou de ajudar Dilma Rousseff na relação com o Congresso como passou a trabalhar ativamente para tirá-la do poder, como mostrou uma reportagem de VEJA publicada em novembro de 2015, um mês antes de Eduardo Cunha, então comandante da Câmara dos Deputados e aliado de Temer, determinar a abertura do processo de impeachment da petista. Itamar Franco não participou de conspirata, mas, antes da destituição de Fernando Collor, pregava abertamente sua renúncia. No governo atual, o general Hamilton Mourão vive escanteado — não por opção pessoal, mas por ser considerado uma sombra perigosa pela família Bolsonaro, que, desconfiada por natureza, acha que ele já cobiçou a cadeira de presidente. Decorativos mesmo só José Alencar, vice de Lula, e Marco Maciel, o discreto parceiro de Fernando Henrique Cardoso. Devido a esse histórico e a outras razões, a escolha para o posto de número 2 na hierarquia da República é estratégica.
Favoritos para a eleição de 2022, o presidente Jair Bolsonaro e seu antecessor Lula sabem da importância da função e já estão em campo prospectando nomes e cenários. Como ensina a cartilha, ambos querem um candidato a vice que agregue valor à chapa. Pode ser em votos. Ou pode ser na construção de uma imagem, por exemplo, mais ou menos moderada. Na busca de um companheiro de chapa, o desafio do ex-capitão, em virtude de sua personalidade, parece mais complicado. Adepto de teorias da conspiração, Bolsonaro prefere escolher para vice alguém de sua estrita confiança, um bolsonarista raiz que não tenha relação com o Congresso, o que dificultaria a vida do escolhido caso esse passasse a flertar com a ideia de derrubar o presidente reeleito. Parece um excesso de precaução, mas faz sentido na lógica de quem vê conspiradores por todos os lados e demitiu ministros com gabinete no Palácio do Planalto por suspeitar de traição. Bolsonaro pode optar por essa solução se a aprovação popular a seu governo melhorar e ele recuperar terreno nas pesquisas de intenção de voto.
Uma possibilidade é oferecer apoio a uma eventual candidatura de ACM Neto ao governo da Bahia, na qual enfrentará o PT, e convidar para vice outro quadro do DEM. De preferência, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Eleito por Minas Gerais, o segundo maior colégio eleitoral do país, Pacheco entrou no radar de setores do PIB que trabalham pela construção de uma candidatura de centro na próxima sucessão presidencial e passou a ser cotado até como cabeça de chapa. O PSD de Gilberto Kassab pretende filiá-lo ao partido com a perspectiva de ser candidato a presidente. Os bolsonaristas dizem que Pacheco não disputará a Presidência, independentemente da legenda em que estiver, mas que ele pode aceitar o posto de vice. Afirmam ainda que, se Bolsonaro recuperar popularidade, o DEM e o PSD provavelmente apoiarão a reeleição. O fato é que hoje a chance maior é de Bolsonaro ter um político tradicional como companheiro de chapa. Ou seja: o pragmatismo tem de tudo para prevalecer no embate com o viés ideológico tão caro ao ex-capitão. O mesmo vale para Lula.
À frente de Bolsonaro nas simulações de primeiro turno, o petista pretende montar uma aliança eleitoral que ultrapasse as fronteiras da esquerda e seja considerada centrista, conciliadora de interesses, numa reedição da estratégia “paz e amor” de 2002. Inspiradas na primeira campanha presidencial vitoriosa do partido, em que o empresário José Alencar era vice de Lula, algumas estrelas do PT passaram a defender a escolha de um empresário para compor a chapa em 2022. Dois nomes surgiram nas conversas: Josué Gomes, filho de José Alencar e dono da Coteminas, e Luiza Trajano, proprietária do Magazine Luiza. Ambos, no entanto, não parecem interessados na empreitada. Gomes, que já foi candidato ao Senado por Minas, descarta nova incursão na política e disputará a presidência da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Luiza — que foi durante o governo Lula integrante do Conselhão, colegiado que reunia representantes de diversos setores para debater temas diversos com o presidente — já externou aos petistas que não pretende participar do processo eleitoral. Ela pode até contribuir com sugestões para a elaboração de medidas destinadas a estimular a economia e a geração de emprego, mas de maneira informal.
Diz um petista graduado: “Não vejo com muitas ilusões a possibilidade de reeditar 2002. A parceria do Lula com o Zé Alencar foi uma coisa única”. A declaração embute uma mistura de constatação e de queixa com o fato de vários empresários terem se distanciado de Lula após a derrocada econômica do governo Dilma e a prisão do ex-presidente. A vaga de vice pode servir para reaproximar as partes, mas outras possibilidades serão avaliadas, inclusive uma eventual composição com legendas que são do Centrão e hoje apoiam Bolsonaro no Congresso, caso do PL do mensaleiro Valdemar Costa Neto. A necessidade eleitoral, como de costume, definirá o nome do vice.
Em 2005, Lula quase enfrentou um impeachment em razão do escândalo do mensalão. Na época, a oposição desistiu do processo por acreditar que ele sangraria até o fim do mandato e perderia a eleição no ano seguinte (veja a matéria na pág. 34). Também ajudou o petista o fato de Alencar ter sido leal a ele nos momentos de maior tensão. Uma década depois, Lula chegou a conversar com Temer numa tentativa de impedir o impeachment de Dilma, mas fracassou na missão. Já Bolsonaro suspeita de Mourão apesar de o general nunca ter feito um gesto efetivo a favor do impeachment, o que ajuda a conter o ânimo dos defensores da deposição do ex-capitão. Com mandatos fixos outorgados pelas urnas, os vices são muito mais importantes do que sugerem suas participações nas campanhas de rua. Nelas — e talvez apenas nelas — eles são meramente decorativos.
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