Literatura de cordel e pesticidas
também caíram, mas a pandemia de covid ficou de fora.
Uma das questões de
matemática, que tratava da Copa do Brasil, no entanto, não tinha resposta
correta, segundo professores de cursinhos ouvidos
pelo g1. Procurado, o
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pelo exame, não
havia se pronunciado até a última atualização desta reportagem. O gabarito oficial deve ser divulgado até quarta-feira
(1º).
No total, eram 90
perguntas de múltipla escolha de matemática e ciências da natureza (física, química e biologia).
A aplicação do exame
transcorreu sem registro de problemas pelo país. No total, cerca de 3,1 milhões de candidatos se inscreveram no exame. No
primeiro dia, 26% faltaram à prova. A abstenção do
segundo dia deverá ser divulgada nesta segunda-feira (29).
Quem perdeu o Enem
tem até a próxima sexta-feira (3) para apresentar justificativa e pedir a reaplicação, prevista para 9 e 16 de janeiro.
Assim como na primeira etapa da prova, em que um estudante passou por baixo do portão que se
fechava para conseguir entrar no local de prova, o exame neste domingo rendeu histórias inusitadas.
Um estudante de Goiás foi picado por um escorpião
durante a prova. Ele achou que a dor era de nervosismo por causa
do exame, até ver o animal enrolado no chão.
Em Olinda (PE),
um casal brigou na porta da escola onde
faria o exame e acabou indo parar na delegacia. No Recife, um irmão e uma irmã
chegaram de moto em cima da hora, mas só ela conseguiu entrar no
prédio. No desespero, ele chegou a pensar em pular o
portão, mas desistiu.
Usado para o
ingresso em diversas universidades do país, o Enem representa esperança para
muitos candidatos. É o caso de um pedreiro da Bahia de 41 anos que sonha ser
engenheiro civil. Ou o da amapaense de 77 anos que quer fazer uma faculdade, mas ainda não
decidiu o curso. "Nunca é tarde pra tentar", disse.
Uma moradora de João Pessoa de 78 anos também
fez o Enem com o objetivo de ir atrás de um sonho. Ela
pretende retomar os estudos, interrompidos na adolescência, e cursar letras.
Tem ainda a história
da estudante de 29 anos que encarou mais de 100 quilômetros de viagem no
Amapá, em três horas de van, para fazer o Enem e ser a
primeira da família a ter ensino superior.
Quem
também fez o exame cheia de esperança foi uma soteropolitana
de 45 anos que sempre teve o desejo de cursar pedagogia, mas nunca teve
condições financeiras.
"Trabalho desde os 9 anos e só agora estou conseguindo", disse.
Em
Belém, um grupo de
cosplayers (fãs de personagens) se posicionou na porta de um dos locais de
prova com cartazes motivacionais para recepcionar os candidatos. "Eu
acredito no seu potencial" e "Vai dar tudo certo" eram algumas
das frases.
A estudante de
Teresina que, no primeiro dia, esqueceu a identidade e foi salva por um
professor que foi buscar o RG na casa dela, se garantiu neste domingo: "Dessa vez, eu
lembrei".
Ainda no Piauí, teve
uma estudante que nem no Enem abandonou o time do coração: ela foi vestida com a camisa do Flamengo, mesmo após a
derrota na final da Libertadores para o Palmeiras no sábado.
Prova
O segundo dia do
Enem foi marcado por uma polêmica na prova de matemática. Professores de seis
cursinhos (Anglo, do SAS, do Objetivo, do Descomplica, da Oficina do Estudante e
do SEB) afirmam que não tem resposta certa a pergunta
de análise combinatória e probabilidade que usava como contexto os
times campeões da Copa do Brasil até 2018. A direção do Anglo vai
recomendar ao Inep o cancelamento da questão.
As provas contêm as
mesmas questões para todos os candidatos, mas a ordem varia conforme a cor do
caderno de questões. A questão que não teria resposta é a de número 157 da prova rosa, que corresponde à 138 da prova azul, 155 da prova cinza
e 178 da prova amarela.
A questão trazia os
15 times vencedores da Copa do Brasil nas 30 edições do torneio e pedia para o
candidato fazer um arranjo para organizar um painel com placas em uma homenagem
da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) aos campeões.
Segundo
a professora de matemática Mayara de Souza, do Descomplica, era preciso
descobrir a quantidade de painéis diferentes que a CBF poderia montar.
De um modo geral, a
prova foi considerada equilibrada e "com a cara do Enem" na avaliação dos professores.
Em ciências da
natureza, uma das questões discutia os impactos em Abrolhos (Bahia) do rompimento da barragem em Mariana (Minas Gerais), a centenas de
quilômetros de distância.
Também foram
cobrados o conceito de ilha de calor na cidade de São Paulo, carros elétricos e
potência dos veículos.
Ainda nessa prova,
uma questão trouxe o trecho de um cordel chamado "Senhor dos Anéis",
de autoria de Gonçalo Ferreira da Silva, que falava sobre corpos celestes para
abordar conceitos de física. Ao g1, o autor disse que a criação dos versos foi
"uma coisa meio espiritual".
Houve ainda uma
questão sobre a diferença entre a temperatura ambiente e a do corpo usando uma
tirinha de "Calvin e Haroldo", duas questões sobre uso de pesticidas
e uma sobre o impacto da extinção de preguiças-gigantes na flora do Pantanal.
Operação no Salgueiro
No domingo, o Inep informou que os
candidatos que não puderam fazer a 1ª prova por conta da operação policial no
complexo do Salgueiro, em São Gonçalo (RJ), no último domingo (21),
vão poder pedir reaplicação do exame.
Segundo moradores, cerca de 500 candidatos não puderam fazer a prova em razão da operação, que terminou com nove mortes. A circulação dos ônibus no local estava prejudicada devido a operação da Polícia Militar. Além disso, por uma questão de insegurança, muitos optaram por não sair de casa.Candidatos presosNeste domingo, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, comentou a situação das duas pessoas que foram presas por engano no primeiro dia do Enem 2021 e disse que elas poderão pedir a reaplicação da prova.
"Nós não temos compromisso com o erro. Nem o MEC nem o governo Jair Bolsonaro. Se está errado, está errado. A gente reaplica, sem problema nenhum", disse.
G1
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