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segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

Vacinas não injetam "DNA alienígena" ao contrário do que afirma postagem no Twitter

É falso que vacinas contra a covid-19 injetem "DNA alienígena" ou qualquer outro DNA nas pessoas. Também é falso que a CoronaVac, vacina do Instituto Butantan e da farmacêutica chinesa Sinovac, não funcione, como afirma em tuíte o presidente da Fundação Cultural Palmares, Sérgio Camargo.

  • Conteúdo verificado: Em publicação, o presidente da Fundação Cultural Palmares, Sérgio Camargo, diz que não permitirá a aplicação de “DNA alienígena” em seu corpo. Apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL), Camargo afirma também que tomará a vacina CoronaVac “caso fique sem saída”, em referência às exigências de um passaporte da vacinação. Mesmo admitindo que tomaria, ele diz que o imunizante não funciona, mas foi desenvolvido com um “método tradicional”.

É falsa a afirmação do presidente da Fundação Cultural Palmares, Sérgio Camargo, que sugere que vacinas contra a covid-19 injetam “DNA alienígena” nas pessoas. A declaração foi feita no Twitter. Especialistas ouvidos pelo Comprova explicam que nenhum imunizante injeta DNA nas pessoas, e que as vacinas são seguras, além de eficazes.

Embora não cite, a alegação de Camargo insinua ter relação com o falso entendimento de que as vacinas que usam a tecnologia de RNA mensageiro (mRNA) injetam DNA ou provocam alterações genéticas nas pessoas, o que não é verdade. Essa tecnologia é usada em duas das vacinas contra a covid-19: Pfizer e Moderna.

No Brasil, apenas a Pfizer está sendo aplicada com essa tecnologia. Segundo infectologistas especialistas ouvidos pelo Comprova, as vacinas de mRNA funcionam a partir da inserção de um pedaço da sequência de RNA do Sars-Cov-2 para gerar resposta no sistema imunológico humano.

Já os imunizantes Oxford/Astrazeneca e Janssen são produzidos por meio do adenovírus recombinante, método que também não injeta DNA.

No caso da CoronaVac, a técnica usada é do vírus inativado. A afirmação de Camargo de que a vacina não funciona também é falsa. O imunizante tem eficácia global de 50,38% e os dados sobre redução de casos e mortes no Brasil após a aplicação desta vacina, a primeira utilizada no país, são um indicativo de que ela funciona.

O presidente da Fundação Palmares foi procurado por meio de sua assessoria em 4 de janeiro de 2022, mas não respondeu até a publicação desta verificação.

O Comprova classificou a publicação investigada como falsa porque o conteúdo foi inventado.

Como verificamos?

Inicialmente, a reportagem foi em busca de especialistas que pudessem explicar a formulação das vacinas contra a covid-19. A reportagem conversou com Alexandre Naime Barbosa – chefe da Infectologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e da Associação Médica Brasileira (AMB) –, com o infectologista Leonardo Weissmann, que também é consultor da SBI, e com o virologista e coordenador do curso de biomedicina do IBMR Centro Universitário, Raphael Rangel.

A equipe também procurou o Instituto Butantan, responsável pela produção da Coronavac no Brasil, para esclarecer como a vacina é produzida e qual é sua eficácia, além de ter buscado informações sobre a vacina e os resultados de seus testes em publicações na imprensa.

Por fim, foi procurado o presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, para tentar entender o que ele considera “DNA alienígena” e por qual motivo ele optaria pela CoronaVac, como escreveu em seu post no Twitter. Ele não respondeu à tentativa de contato até a publicação deste texto.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 10 de janeiro de 2022.

Verificação

DNA alienígena?

As vacinas são desenvolvidas por meio de diferentes técnicas. No caso dos imunizantes aplicados contra o coronavírus no Brasil são três os métodos: RNA mensageiro, adenovírus e vírus inativado. Diferente do que Camargo afirma na publicação, em nenhum deles é usado DNA, nem existe a possibilidade de que vacinas injetem “DNA alienígena” nas pessoas.

O DNA (ácido desoxirribonucleico) é uma molécula que fica no núcleo das células de seres vivos e que carrega toda a informação genética do indivíduo e suas características. Ela é a responsável por transmitir as informações genéticas e, por isso, tem um papel fundamental na hereditariedade. O RNA também é um ácido nucléico, formado a partir de uma molécula de DNA, que tem como principal função sintetizar proteínas.

A Pfizer – aplicada em adultos, adolescentes e crianças – é desenvolvida por meio de RNA recombinante. O chefe da Infectologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e da Associação Médica Brasileira (AMB), Alexandre Naime Barbosa, explica que pesquisas com esse método são desenvolvidas há dez anos.

O processo funciona inserindo um pedaço de uma sequência do RNA do SARS-Cov-2. O RNA mensageiro sintetiza a proteína spike, a principal do coronavírus, mas não nociva como a do próprio vírus. Por meio desse processo, as células do próprio corpo se tornam capazes de produzir a proteína, que então é reconhecida pelo sistema imunológico, estimulando a produção de anticorpos. Todo o processo acontece no citoplasma da célula, fora do núcleo que abriga o DNA. “É uma forma muito inteligente de você conseguir que o sistema imune consiga produzir substâncias que vão proteger o indivíduo”, diz Barbosa.

Vacinas não fazem alterações genômicas

O infectologista Leonardo Weissmann, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), esclarece que tomar essa vacina não causa nenhum tipo de alteração genômica.

“O RNA mensageiro sintético produzido em laboratório não causa doença nem qualquer alteração em nosso genoma, já que ele não penetra no núcleo de nossas células, onde está o DNA”, explica.

Barbosa acrescenta que a técnica de mRNA não provoca nenhum tipo de toxicidade, já que a partícula utilizada se desintegra rapidamente. “Importante dizer que essa proteína de RNA mensageiro que é feita através da vacina, ela tem uma vida muito curta, ela é muito lábil, efêmera. E logo depois que é sintetizado esses pedacinhos do vírus, ela acaba perdendo sua conformação, ela se desintegra, degenera e não tem mais nenhum tipo de toxicidade”, explica.

CoronaVac: vacina de vírus inativado

No tuíte, Camargo afirma que, se ficar sem saída [e tiver que se vacinar para obter o passaporte sanitário], irá optar pela CoronaVac, porque, segundo ele, “não funciona” e foi desenvolvida usando um “método tradicional e já bem conhecido”. É verdade que a tecnologia utilizada nesta vacina já é bem conhecida, mas não é verdade que ela não funciona (leia mais abaixo).

De acordo com Weissmann, a CoronaVac é uma vacina de primeira geração, que usa uma tecnologia “quase centenária”. “Ela utiliza o microrganismo inteiro, cultivado em células no laboratório e, posteriormente, inativado, tornando-se incapaz de produzir doença. Quando entra no organismo, o vírus vacinal é percebido como um agente estranho e desencadeia a resposta do sistema imunológico”, explica.

Outras vacinas presentes no calendário vacinal dos brasileiros também usam essa mesma tecnologia, como as vacinas contra sarampo, rubéola, caxumba e gripe.

Coronavac é eficaz contra Covid-19

O autor da publicação mente ao afirmar que a CoronaVac não funciona. A queda no número diário de casos e de mortes a partir de março de 2021, quando os primeiros vacinados começaram a receber a segunda dose da CoronaVac, é um indicativo da eficácia da vacina.

Correio Brasiliense

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