O debate entre os candidatos à Presidência da República, Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), promovido hoje (28) pela TV Globo foi marcado por 'broncas' do apresentador William Bonner, e até 'direito de resposta' do jornalista, cobertura da mídia internacional e ato falho de Bolsonaro que, nas considerações finais, afirmou que irá cumprir mais um mandato de deputado federal.
O clima nos estúdios da emissora ficou tenso não apenas durante o debate, mas também depois do confronto. A coletiva de imprensa do presidente terminou com ele batendo na mesa e sendo retirado do local por assessores. Em outro momento, Bolsonaro se irritou com uma pergunta de um repórter português e chegou a dizer que não falava "portunhol".
Retirado por assessores. Bolsonaro teve a reação de bater na mesa ao ser questionado sobre o ato de campanha de Lula no Complexo de Alemão. O repórter da Folha de S.Paulo informou que toda a imprensa carioca sabe que o organizador da visita é um comunicador conhecido e sem envolvimento com o tráfico, como o presidente sugere. Ao ouvir esta frase, Bolsonaro reagiu aos berros.
"Você tem moral para me chamar de mentiroso?". A frase foi seguida de uma batida na mesa. Os dois passaram a falar ao mesmo tempo enquanto assessores do presidente tentavam interromper a cena. O senador eleito Sergio Moro (União-PR) precisou pedir calma ao presidente.
O ajudante de ordens tenente-coronel Mauro Cid entrou em cena e levou Bolsonaro para fora do palco. Ao mesmo tempo, auxiliares corriam na direção de Fabio Wajngarten, um dos coordenadores da campanha, pedindo ajuda.
Que língua falo eu? Na entrevista coletiva, Bolsonaro foi questionado por um jornalista da RTP, de Portugal, sobre a imagem do Brasil no exterior, mas o presidente disse não entender a pergunta. O repórter se ofereceu para repetir o questionamento, mas o presidente negou.
"Não sei se entendi o que você falou. Mas se ficar repetindo eu continuarei não entendendo", disse Bolsonaro. "É que não falo espanhol nem portunhol", disse ao jornalista português. "Eu não falo portunhol", respondeu o repórter, que havia feito a pergunta em português.
Bolsonaro, o presidente. Irritado, Bolsonaro ameaçou sair da coletiva de imprensa após ser chamado de "candidato" pela assessora da Rede Globo, que avisou, no microfone, que faltava apenas um minuto para a conclusão do tempo combinado com a empresa.
"Pera aí, eu sou candidato ou sou presidente? Se eu sou candidato, eu vou embora. Então, por favor, eu sou presidente da República. Candidato eu era lá dentro", disse, em referência ao debate presidencial que ocorreu horas antes.
Bolsonaro, o candidato. Ele também se recusou a deixar o púlpito, quando informado que o tempo havia acabado, mesmo sendo chamado de "presidente" pela assessora.
"Não, não, não. Eu vou continuar falando aqui. Peraí, por favor, eu sou educado pra caramba. Se achar que está ruim, eu vou embora. Eu quero continuar falando. Eu falo com vocês uma hora, não cortem meu raciocínio", disse Bolsonaro.
O tempo de dez minutos após o debate é estabelecido em comum acordo entre as duas candidaturas e pode ou não ser usado totalmente, mas tem de ser disponibilizado igualitariamente, um pré-requisito da Legislação Eleitoral.
O ex-presidente Lula, por exemplo, abriu mão do seu tempo e deu lugar ao candidato a vice, Geraldo Alckmin (PSB), que não deu entrevista, apenas fez um pronunciamento sobre a transferência do traficante Marcola.
Provocação. Durante o debate, enquanto discutiam sobre o combate à pobreza, Lula apontou para a área de convidados de Bolsonaro dentro do estúdio e disse, em tom de ironia: "Estão falando para você repetir, repete".
No último debate, as instruções do vereador carioca Carlos Bolsonaro (PL), segundo filho do presidente, nos bastidores, chamaram a atenção dos presentes e ajudaram Bolsonaro. As dicas eram principalmente voltadas à postura do pai no palco.
Broncas de Bonner. O apresentador do debate, o jornalista William Bonner, fez diversas intervenções durante o primeiro bloco do debate pedindo silêncio aos assessores que acompanhavam Lula e Bolsonaro nos estúdios. Uma fala de Jair Bolsonaro, inclusive, acabou rendendo um "direito de resposta" ao apresentador.
"Como fui citado pelo candidato Bolsonaro me permita fazer um esclarecimento muito breve. Eu de fato disse na entrevista do Jornal Nacional que o candidato Lula não deve nada à justiça. Mas como jornalista eu não digo coisas da minha cabeça. Eu disse isso baseado em decisões fundamentadas do STF", justificou Bonner.
Personal space. Lula evitou ficar próximo a Bolsonaro. No debate passado, que estreou o modelo livre entre os dois, podendo andar por todo o perímetro do palco, Bolsonaro chegou a tocar no petista. O ex-presidente foi pegar uma água e ficou claramente constrangido com o ato do presidente.
Na Globo, foi acordado que contato físico seguia proibido, mas, mais baixo, Lula preferiu manter distância do adversário. "Fica aqui, rapaz", disse Bolsonaro ao final do primeiro bloco, em um movimento parecido ao debate anterior. "Eu não quero ficar perto de você", respondeu o petista, de longe, com o dedo em riste.
Interesse internacional. O jornal americano The New York Times publicou um vídeo na quinta-feira (27) afirmando que a eleição do Brasil, país que controla mais da metade da floresta amazônica, vai definir o futuro do planeta.
De fato, o embate entre Lula e Bolsonaro atraiu interesse da mídia internacional. Na área reservada pela Globo para a imprensa ouvia-se diferentes línguas estrangeiras. Equipes de emissoras argentinas eram mais de uma e o espanhol também era falado por uma repórter da CNN chilena.
Os profissionais da YLE enviavam a sua matriz na Finlândia as informações do debate numa língua que ninguém entendia. Também tinha repórter que fala árabe. Hassan Massoud foi o jornalista destacado pela Al Jazeera para cobrir o último debate eleitoral.
Deus do céu", disse em tom de desdém. Ela conversou com o UOL, não quis ser identifica, e afirmou que Bolsonaro nunca foi de subir nos morros do Rio.
O assunto aparecer na corrida presidencial não é novidade. No primeiro debate, o presidente se enrolou ao fazer a mesma pergunta e acabou sugerindo que nas comunidades do Rio de Janeiro moram apenas traficantes. A declaração foi usada por Lula em seus comícios.
Desconsiderando as urnas. "Tem gente que vai votar no PT na Bahia, que vergonha!", disse Bolsonaro, enquanto citava o apoio do ex-deputado Geddel Vieira de Lima (MDB), preso por corrupção, a Lula.
O estado nordestino é, no entanto, o segundo local mais lulista do país, depois do Piauí: o petista teve 69,73% do eleitorado baiano no primeiro turno e o PT projeta um crescimento para pelo menos 75% no próximo domingo (30).
Bolsonaro disse que o ex-deputado é "coordenador da campanha de Lula" no estado. O político, preso em 2017 pela Polícia Federal com a apreensão de R$ 51 milhões em dinheiro, é apoiador do ex-presidente, com quem havia rachado, mas não coordena a campanha.
Por outro lado, seu irmão Lúcio Vieira Lima, presidente do MDB-BA, foi um dos articulares para a coligação do partido junto ao PT no estado e participou de algumas reuniões junto a Lula.
'Ô Lula' x 'Esse Bolsonaro'. Bolsonaro começou o debate chamando Lula de "Luiz Inácio", mas logo abandonou o nome e adotou "ô Lula", que repetiu diversas vezes ao longo do debate, sobre tudo ao final de suas falas.
Em contrapartida, no primeiro bloco, o petista se referiu ao candidato à reeleição como "esse Bolsonaro", quando ia responder alguma declaração do presidente. O termo ficou entre os mais comentados do Twitter.
Comitiva feminina. Lula chegou à TV Globo acompanhado da senadora Simone Tebet (MDB-MS), da presidente petista Gleisi Hoffmann, da deputada eleita Marina Silva (Rede), da senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), da esposa Janja da Silva, do candidato a vice, Geraldo Alckmin (PSB), do advogado Cristiano Zanin e de ex-ministros e coordenadores, como Aloízio Mercadante e Edinho Silva.
Com Bolsonaro, só homens. Já Bolsonaro levou em sua comitiva apenas homens: o senador eleito Sergio Moro (União-PR), os ministros da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), das Comunicações, Fábio Faria (PP), o coordenador de Comunicação da campanha, Fábio Wanjgarten, e aliados e integrantes da campanha, como Major Cid, Filipe Martins e Vicente Santini.
Sem influencers. Os dois principais conselheiros digitais das campanhas de Lula e Bolsonaro não acompanharam seus candidatos ao estúdio. Carlos Bolsonaro, segundo filho mais velho do presidente, tem acompanhado o pai em todos os debates, mas dessa vez não foi à Globo.
O deputado André Janones (AV-MG), que hoje dita os rumos das redes petistas, disse que iria, mas também não foi.
Oração antes do debate. O pastor Silas Malafaia, que acompanha Bolsonaro nos estúdios da emissora, fez uma oração com o candidato à reeleição antes de entrar na área do debate.
UOL
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