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quarta-feira, 12 de outubro de 2022

Tebet, Michelle e troca de ataques: veja os planos de Lula e Bolsonaro na batalha de rejeições



Aumento de ataques para desgastar imagem do adversário é tônica das campanhas lulista e bolsonarista conforme se aproxima o segundo turno.


Após dois meses de campanha, com o eleitorado dividido e o arsenal de propostas quase esgotado, os dois postulantes à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), enxergam no cabo de guerra dos índices de rejeição o atalho mais curto para a vitória no segundo turno. Nos QGs das duas campanhas, a ordem é intensificar ataques para ampliar o desgaste da imagem do adversário e, na defesa, aplicar novas estratégias para reverter a repulsão que prejudica o crescimento e deve decidir a eleição.

Apenas em 2018, os dois candidatos que foram ao segundo turno foram tão rejeitados quanto agora. O tema é um dos que mais preocupam o núcleo duro petista, já que o percentual de brasileiros que rechaçam o voto em Lula tem avançado desde o mês passado, quando era de 33% e, conforme o Ipec, atingiu 42% no segundo turno. Na tentativa de conter o avanço, a campanha está encadeando uma série de ações, como a tentativa de aproximação a personagens inicialmente refratários ao ex-presidente, o uso da presidenciável derrotada Simone Tebet (MDB) e investidas na direção dos evangélicos.

Enquanto os números apontam tendência de alta contra o petista, o índice de eleitores que rejeitam Bolsonaro vem caindo. De acordo com o Ipec, em 26 de setembro, estava em 51% e passou a 48% no levantamento divulgado na segunda-feira. O principal temor petista é de que Lula e Bolsonaro atinjam o empate técnico na semana que vem, quando haverá nova sondagem.

A estratégia para conter a alta passa por Simone Tebet, que declarou apoio a Lula. Como ela representa majoritariamente eleitores de centro, sua atuação pode reverter a rejeição nesse espectro. A emedebista tem defendido que a campanha evite explorar o vermelho, cor do PT, com o intuito de reduzir o constrangimento do brasileiro que cogita votar em Lula para derrotar Bolsonaro, mas não se sente identificado com a sigla.

A campanha trabalha para reverter o cenário desfavorável junto a evangélicos, setor em que Bolsonaro lidera. Ontem, Lula esteve em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, ao lado do prefeito da cidade, Waguinho (União-RJ), que é evangélico e marido de Daniela do Waguinho, deputada federal mais votada do Rio. Os petistas avaliam divulgar uma carta de compromissos voltada ao segmento.

Em outra frente, tratada como a mais ambiciosa, a campanha tenta cooptar personalidades com apelo popular, como o senador reeleito Romário (PL). Correligionário de Bolsonaro, ele se sentiu traído após o presidente ter declarado voto em Daniel Silveira (PTB) para o Senado no Rio. Apesar da rusga, porém, Romário já anunciou que votará no presidente, o que praticamente inviabiliza o flerte. Os petistas também sonham com uma declaração de apoio, ainda que crítica, do apresentador Luciano Huck.

O núcleo duro de Lula botará em prática medidas que, se não são baixarem a rejeição ao petista, podem ampliar a de Bolsonaro. O ex-presidente manterá os ataques, mas renovará o vocabulário. Nos últimos dias, lançou o “bolsolão” ao se referir ao orçamento secreto, criado durante o atual governo. Por outro lado, deverá abandonar o termo genocida. Pesquisas qualitativas mostraram à campanha que boa parte dos eleitores não entende o significado da palavra. A ideia é insistir na pecha de que Bolsonaro trabalha quatro horas por dia e seria “vagabundo”, termo mais palatável.

Os estrategistas do grupo que trabalha pela reeleição de Bolsonaro promoveram mudanças menos radicais para mexer no placar da rejeição, que hoje mostra um viés de recuperação do presidente. Ainda assim, os bolsonaristas passaram a empreender mais esforços para ganhar eleitores no Nordeste, onde Lula venceu em todos os estados.

PP paga voos de Michelle

A campanha bolsonarista direcionou dois programas eleitorais, no sábado e na segunda-feira, inteiramente para a região. Neles, são citadas medidas do governo que a beneficiam, como a transposição do Rio São Francisco, obra iniciada durante a gestão de Lula. Os programas foram encerrados com um repente, ritmo tipicamente nordestino. Além disso, nos últimos dias, os bolsonaristas impulsionaram no YouTube três vídeos apenas para moradores da região.

Assim como Lula, na mesma medida em que luta para reduzir a própria rejeição, o presidente age para aumentar a do concorrente. Bolsonaro subiu o tom nos ataques ao petista. Uma inserção exibida nesta terça afirma que “os criminosos escolherem o Lula para presidente”, destacando a votação do ex-presidente em presídios no primeiro turno. Outra peça publicitária destaca imagens de petistas históricos presos, como os ex-ministros José Dirceu e Antonio Palocci, e diz que “Lula quer os seus cúmplices de volta”. O texto afirma ainda que “quem apoia bandido é cúmplice”.

A principal preocupação da campanha, porém, ainda é a rejeição de Bolsonaro entre as mulheres, fatia da população em que ele enfrenta maior resistência. Tratado como trunfo para reverter esse cenário, a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, intensificou sua participação na caça a votos para o marido. Ela e a senadora eleita Damares Alves (Republicanos-DF) começaram um giro por diversas cidades, ao lado de outras parlamentares, em que promovem o ato intitulado Mulheres com Bolsonaro e se reúnem com apoiadoras do presidente.

Um discurso da primeira-dama, ontem, em Manaus, sintetizou as duas frentes de ação do bolsonarismo: aumentar a reprovação de Lula junto a religiosos e nordestinos, além de reduzir a da Bolsonaro entre o público feminino. Evangélica, Michelle criticou a promessa do petista de que, se eleito, levaria picanha à mesa do brasileiro e fez um paralelo com a transposição do São Francisco:

— Muitos cristãos ainda caem no conto de que, se ele voltar, vai dar picanha. Se ele não conseguiu entregar água aos nossos nordestinos (...) você acha que (...) vai entregar picanha agora?

A presença de Michelle é considerada tão fundamental que as viagens feitas por ela têm sido custeadas pelo PP, legenda da coligação do presidente. Nesta semana, a primeira-dama foi a Belém (PA), Macapá (AP), Boa Vista (RO) e Manaus (AM).

A vice-governadora do Distrito Federal eleita, Celina Leão (PP), que acompanha Michelle nas viagens, afirmou ao GLOBO que a aeronave usada nos deslocamentos está sendo paga pelo PP, como forma de doação à campanha de Bolsonaro. A informação foi confirmada pelo presidente do PP, Cláudio Cajado (BA).

A participação financeira do PP se dá no momento em que o PL já gastou todos os recursos do seu fundo eleitoral.

O avião que serviu a Michelle é um bimotor de alta performance com capacidade para nove passageiros. O aluguel da aeronave custa cerca de R$ 31 mil por hora. O trajeto percorrido pela primeira-dama sairia por aproximadamente R$ 305 mil, em média, segundo simulação feita pela empresa que oferece o serviço.

O Globo 

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