A informação ao seu alcance!

domingo, 6 de abril de 2025

Bolsonaro e apoiadores se reúnem em ato na Paulista por anistia dos condenados pelo 8 de Janeiro


Ex-presidente volta a atacar o STF e leva familiares de presos para pressionar por PEC na Câmara; Malafaia pressiona o presidente da Câmara, e deputados do PL outros representantes de partidos do Centrão.

Governadores, políticos e líderes da direita e próximos ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) realizaram neste domingo, na Avenida Paulista, São Paulo, novo ato. O mote, segundo a organização, é pela anistia dos condenados pelo 8 de Janeiro, projeto de lei na Câmara defendido por parlamentares do PL e ainda sem previsão de ser pautado pelo presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB). Cálculos do grupo da USP "Monitor do debate político" apontam que 44,9 mil pessoas participaram da manifestação.

Bolsonaro chegou à manifestação por volta das 13h45, acompanhado de aliados e foi o último a discursar. O presidente voltou a atacar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, criticar o governo Lula e pedir ao Congresso que paute a PEC da Anistia. O ex-presidente discursou ao lado de familiares de Débora Rodrigues dos Santos, condenada por Moraes a 14 anos de prisão — o caso dela segue em análise na Corte —, e chegou a citar trechos em inglês durante o discurso.

O ex-presidente estava no trio elétrico acompanhado da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, do governador de Minas Gerais Romeu Zema, e parlamentares como a senadora Tereza Cristina (PP-MS). 

— Eu não tenho adjetivo para qualificar quem condena uma mãe de dois filhos a uma pena tão absurda por um crime que ela não cometeu. Só um psicopata para falar que o que aconteceu no 8 de janeiro foi uma tentativa armada de golpe militar — discursou o ex-presidente ao lado da mãe de Débora. 

Pressão sobre a Câmara

A manifestação começou às 14h com a execução do hino nacional. O primeiro a discursar foi o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcanti (RJ), que aproveitou a fala para pressionar os colegas parlamentares sobre pautar a votação da urgência da PEC da Anistia. Desde que os trabalhos na Câmara voltaram este ano, pautar a anistia tem sido o principal objetivo da sigla, que chegou a ameaçar obstruir votações para pressionar os líderes da Casa a acelerarem a tramitação da PEC. No entanto, até o momento, o texto segue paralisado.

— Nesse momento a gente tem 162 assinaturas para acelerar o projeto da anistia — disse, afirmando que nesta segunda-veira vai publicar o nome e a foto de cada deputado e correr atrás das 257 assinaturas restantes. — Ninguém vai nos parar até que a anistia seja aprovada. 

Outro a cobrar o Congresso foi o deputado Altineu Cortes (PL-RJ). Em sua fala, ele questionou uma autoridade de cada partido presente se a sigla apoiava a PEC. O primeiro questionado foi o governador de Sâo Paulo, Tarcísio de Freitas, representando o Republicanos, seguido pelo presidente do PL, Valdemar Costa Neto, os governadores Ronaldo Caiado, Wilson Lima e Mauro Mendes representando o União Brasil, Romeu Zema representando o Novo e a vice-governadora do DF, Celina Leão, representando o PP. Todos foram ao microfone endossar o projeto, exceto o governador Ratinho Junior (PSD), que não estava no carro de som. 

— O presidente do PSD, (Gilberto) Kassab, deu a palavra dele que o partido apoia a anistia — disse no trio elétrico. 

O pastor Silas Malafaia foi o único a citar o nome do presidente da âmara, Hugo Motta, para pressionar sobre o andamento do texto na Câmara. Em uma fala mais dura, Malafaia afirmou que Motta pediu aos líderes da Casa para não assinarem a urgência do texto sobre anistia.

— Peço que Hugo Motta mude, pois você está envergonhando o honrado povo da Paraíba. E eu tenho certeza que com o que nós ouvimos aqui dos governadores, de que os deputados não vao abrir mão de assinar o pedido de anistia já. 

Já o deputado Nikolas Ferreira(PL-MG) fez ataques aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), a quem chamou de "ditadores da toga" que, segundo ele, se utilizaram do 8 de Janeiro para "amedrontar" a direita. 

— Ditadores de toga, principalmente como Alexandre de Moraes, se utilizou do dia 8 para nos amedrontar. Se lascou! Olha a gente aqui, essa é a resposta para você, seu covarde! E digo mais: fizeram de tudo para poder massacrar a maior liderança política desse país, que é Bolsonaro! E digo novamente: se lascou! 

Nikolas ainda comentou sobre o ministro Luís Roberto Barroso, atual presidente da Corte, a quem chamou de "debochado": 

— Para o debochado do ministro Barroso, que falou "perdeu, mané". Isso é um fala de bandido quando vai roubar alguém. O que você tá querendo dizer com isso, Barroso: que na eleição de 2022 nós fomos assaltados? Se for isso, fique em paz: daqui a um ano e meio tem eleições de novo.

Já o prefeito paulista Ricardo Nunes (MDB) disse que está cobrando parlamentares do MDB a se posicionarem pela PEC no Congresso. 

O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) chamou atenção para a quantidade de manifestantes no local, e puxou o coro de "Anistia Já". Assim como o senador Rogério Marinho e Sóstenes, também pediu às pessoas que gritassem "volta, Bolsonaro", e comentou sobre o alto custo de itens como ovo, feijão e carne no governo do presidente Lula. 

— Eu quero prisão para assaltante, para quem rouba celular, para quem invade terra, eu quero prisão para corrupto. 

Já ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro questionou a prisão de alguns investigados pelos ataques golpistas do 8 de Janeiro, usando o caso de Débora Rodrigues dos Santos, em julgamento por cinco crimes no STF. Se citar que Débora ainda não foi condenada e que seu caso esta sob pedido de vista do ministro Luiz Fux, Michelle disse chamou a invesrtigada de "Uma mulher comum", e citou apenas a pena para pichadores, de três meses em regime aberto. 

— Agora (Débora) está em prisão domiciliar graças a grande mobilização de vocês — discursou a ex-primeira-dama. — Se um pichador pode cumprir pena de três meses em liberdade, por quê tanta maldade e crueldade com essa mulher?

No entanto, diferentemente do que disse Michelle, Débora é acusada de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, com pena de 4 anos e 6 meses de reclusão; golpe de Estado, com pena de 5 anos; dano qualificado, com violência à pessoa ou grave ameaça, ao patrimônio da União, por motivo egoístico ou prejuízo considerável para a vítima, com pena de 1 ano e 6 meses de detenção e multa de R$ 25.300; deterioração do Patrimônio tombado, com pena de 1 ano e 6 meses e multa de R$ 25.300; e associação criminosa armada, com pena de 1 ano e 6 meses de reclusão. Deborah, segundo a Procuradoria-Geral da República, também é suspeita de apagar provas, obstruindo o trabalho de investigadores e da Justiça. 

Antes de finalizar seu discurso, Michelle pediu que o ministro Luiz Fuz "um juiz de carreira", "não jogue seu nome na lama", e pediu para analisar o caso de Adalgiza Maria Dourado, condenada a 16 anos e seis meses de prisão seja revisto. A mulher tem 64 anos, segundo a ex-primeira-dama. 

— Temos aqui a Adalgiza de 64 anos, que está doente. Não deixar a Adalgiza morrer, Luiz Fux, como fizeram com Clezão. 

Michelle ainda chamou todos os filhos homens de Bolsonaro presentes no ato — o senador Flávio, o vereador de Balneário Camboriú (SC) Jair Renan e o vereador do Rio Carlos Bolsonaro — para abraçarem o pai no carro elétrico aos gritos de "anistia humanitária já", e salientou a ausência do deputado Eduardo, que se licenciou no último mês do cargo e está nos Estados Unidos.

Bolsonaro 'único candidato'

Os organizadores divulgaram em listas no dia anterior confirmando a presença de 117 políticos da direita ou próximos ao ex-presidente. Além de Bolsonaro estão em São Paulo a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, o presidente do PL Valdemar Costa Neto, além de sete governadores, o prefeito Ricardo Nunes (MDB), senadores, deputados federais e estaduais, e vereadores da capital e do interior do estado. 

Antes do ato, Valdemar Costa Neto reiterou que Bolsonaro é um “fenômeno” e que todos estão na Paulista para trabalhar pela anistia. Apesar da inelegibilidade do ex-presidente até 2030, Valdemar insistiu que o ex-presidente é o único candidato nas eleições de 2026. 

— Todos nós vamos fazer esse trabalho. Queremos anistia. Vamos trabalhar para isso. É por isso que estamos fazendo esses encontros — disse Valdemar, afirmando que o ato de hoje não a eleição de 2026. — Primeiro nós precisamos ver como é que fica a situação do Bolsonaro. Mas eu tenho certeza que o Bolsonaro vai ser candidato. Tenho certeza.

O cacique do PL também comentou a pesquisa Datafolha, divulgada neste domingo, apontando que 67% dos eleitores não querem Bolsonaro como candidato: 

— Para nós é o Bolsonaro o candidato. É o melhor. Para nós não têm outra opção. Tem que ser o Bolsonaro. E eu tenho certeza que ele vai conseguir isso ainda. Nós vamos trabalhar muito para conseguir isso.

Outra pesquisa divulgada neste domingo foi a Quaest, publicada inicialmente pelo colunista Lauro Jardim. Segundo o levantamento, 56% dos entrevistados defendem que "os envolvidos nas invasões de 8 de janeiro" devem "continuar presos por mais tempo cumprindo suas penas". Entre os entrevistados, 34% acham que eles nem deveriam ter sido presos ou "já estão presos por tempo demais" 

Cinco presidenciáveis'

Antes mesmo do ato na Paulista, o ex-presidente posou para algumas fotos com políticos da direita. O governador de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos), que hospedou Bolsonaro no Palácio Bandeirantes, publicou uma imagem ao lado do aliado e outros seis governadores em seu perfil nas redes — Romeu Zema (MG), Jorginho Mello (SC), Ronaldo Caiado (GO), Wilson Lima (AM), Ratinho Júnior (PR) e Mauro Mendes (MT). O governador do Rio Cláudio Castro, que havia confirmado participação, se ausentou devido às chuvas no estado, mas postou um vídeo nas redes sociais citando seu apoio "à causa (da anistia)". 

Caiado afirmou que veio à manifestação porque é um movimento nacional pela “justiça”, e afirmou ser um dos cinco presidenciáveis presentes hoje na Paulista. O governador goiano lançou nesta sexta-feira sua pré-candidatura ao posto pelo União Brasil, em um evento em Salvador. 

— Não tem sentido essa situação que leva a um sentimento de total descompasso com aquilo imputado em relação às penas. O Estado não pode vingar, ele tem que julgar. Então este é o momento de julgar com equilíbrio, com apoderação. É a hora de nós caminharmos para pacificar o Brasil.

Ele afirma que sua pré-candidatura à presidência não fragmenta a Direita. 

— Olha, hoje aqui nós estamos em Caiado presidenciável, Zema presidenciável, Ratinho presidenciável, Tarcísio presidenciável, Bolsonaro presidenciável. Hoje nós somos cinco. Não fragmenta a direita, mas é a realidade. Essa realidade vai trabalhar. 

Já o mineiro Romeu Zema (Novo) voltou a fazer acenos a Bolsonaro e minimizou a fragmentação de candidatos: 

— A proposta da direita é muito semelhante. Eu já disse que eu quero somar com o projeto Brasil. Em Minas nós fizemos a diferença e eu quero estar contribuindo. E a definição (sobre a candidatura) vai ser feita mais adiante. Nós estamos mostrando aqui hoje que estamos juntos, unidos, sete governadores. Como eu falei, eu quero contribuir com a direita, com o Brasil. A posição para mim é secundária, eu quero contribuir e ajudar.

A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, ausente no ato realizado há poucas semanas no Rio de Janeiro, posou ao lado de outras mulheres, como a mulher do governador de Goiás, Gracinha Caiado. 

O deputado Nikolas Ferreira, que divulgou na quinta-feira um vídeo sobre a Anistia e que rendeu mais de 50 milhões de visualizações em dois dias, destacou a força de convergência do ex-presidente, mesmo inelegível, em reunir nomes da direita: 

— Que bom que ele tem conseguido ser um líder de convergência. São quase 10 governadores, centenas de deputados, senadores unidos. E isso tem mostrado que o cara que está inelegível tem mais força política do que o atual presidente. 

Varal de mártires e trap

Nas primeiras horas da manifestação, apoiadores do ex-presidente já faziam volume na Avenida Paulista, mesmo sem a presença de nenhuma autoridade. Nas placas, pedidos de anistia e o uso do batom como "símbolo de resistência". “Cuidado ao usar essa arma, te condena há 14 anos” diziam placas com o objeto. 

A referência é a condenação de Débora Rodrigues dos Santos, responsável por pichar a estátua que fica em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF). O julgamento está parado na Corte após um pedido de vista do ministro Luz Fux.

Além de um “varal de mártires” com imagens de pessoa presas por tentativa de golpe, a manifestação também contou com músicas originais. Uma delas, um trap. “Não houve golpe, nem tentativa de golpe, só tinha mulheres”, dizia a letra. Músicas em sertanejo e pop com a mesma temática também foram tocadas.

O Globo 

Nenhum comentário:

Postar um comentário