O ano de 1877 ficou marcado na história do Nordeste brasileiro como
“o ano da seca dos dois setes”. Foi uma das piores já registradas e
seus efeitos foram devastadores. Milhares de sertanejos foram obrigados a
abandonar suas terras, fugindo da fome e da seca em busca de salvação.
As veredas do sertão se encheram de farrapos humanos que penosamente se
arrastavam em busca de centros maiores. Muitos não resistiam à jornada e
morriam nas estradas. O carrascal ficou pontilhado de toscas cruzes
Por esse período Mossoró figurava como a mais próspera cidade do
interior do Rio Grande do Norte, com vasto comércio, que atendia não
apenas o Oeste potiguar, mas também parte da Paraíba e do Ceará. Por
tudo isso era a cidade mais procurada pelos retirantes.
E de repente a cidade se encheu de uma estranha gente, maltrapilha e
esfomeada, implorando migalhas de comida. Já não existia dignidade para
aquela gente, que de tudo era capaz para conseguir alimento; até roubar.
Para manter a integridade e a segurança dos cidadãos mossoroenses, e
ao mesmo tempo amenizar a fome daquela pobre gente, foi criada a
Comissão de Socorros Públicos, que tinha como presidente o Juiz
Municipal Manuel Hemetério Raposo de Melo. Essa Comissão tinha por
objetivo organizar frentes de trabalho que participariam da construção
de algumas obras públicas, tendo como único pagamento uma mísera ração
de rapadura, farinha e bolacha seca. Mas foi a salvação de muitos.
Uma das obras realizadas por esses trabalhadores foi o prédio da
Cadeia Pública, prédio esse que abrigaria também a Câmara Municipal.
Esse prédio teve a sua construção iniciada em 1878, sendo inaugurado em 8
de abril de 1880, quando o administrador de obras Astério de Souza
Pinto, fez a entrega do prédio ao Coronel Francisco Gurgel de
Oliveira, Presidente da Intendência.
O prédio foi construído em dois andares: no andar térreo tinha
porões, celas e alojamentos para o Corpo de Guarda; no andar superior,
foi instalada a Câmara Municipal, que inaugurou as novas instalações a
14 de abril do mesmo ano, data essa em que foi realizada a sua primeira
sessão.
O professor Lauro da Escóssia, em seu livro “Cronologias
Mossoroenses”, narra um fato curioso acontecido com o Dr. Manuel
Hemetério. O Dr. Hemetério, “tinha por hábito fiscalizar diariamente o
andamento da construção, demorando-se por horas no interior do prédio.
Certa tarde, entrara o magistrado numa dependência interna, sem que
ninguém percebesse a sua presença. E ao encerrar o horário de trabalho,
pedreiros e serventes fecharam o prédio e se recolheram às suas
residências. Já noite, um carreiro (tangedor de carros de boi), vindo do
porto de Santo Antônio, ao passar defronte a construção, ouviu gritos
que dali partia e ao se aproximar percebeu tratar-se de alguma pessoa.
Grande foi a sua surpresa ao reconhecer o Dr. Manuel Hemetério, o Juiz
construtor do prédio, que por esquecimento dos operários ficou ali
fazendo às vezes de primeiro detento da Cadeia Pública de Mossoró. Foram
procurar o administrador da obra que outra alternativa não teve senão
deslocar até o prédio em construção para soltar o Dr. Manuel Hemetério”.
O prédio ficou famoso por ter sido em suas dependências que se
realizou dois dos principais acontecimentos de Mossoró. O primeiro foi
quando em 30 de setembro de 1883, a Câmara Municipal realizou a sessão
magna da Libertadora Mossoroense, declarando que a partir daquela data o
município se achava livre de escravos. O segundo se deu quando nas
eleições de abril de 1928, dona Celina Guimarães Viana votou pela
primeira vez, constituindo-se na primeira mulher na América do sul a
solicitar sua inscrição no Registro Eleitoral, pedido deferido pelo Dr.
Israel Ferreira Nunes, em 25 de novembro de 1927. Foi também nesse
prédio que foi detido o cangaceiro Jararaca, em 1927, quando do ataque
de Lampião à Mossoró.
Atualmente o antigo prédio da Cadeia Pública abriga o Museu Histórico
“Lauro da Escóssia”. O referido Museu abriga o mais rico acervo da
região nos campos da Mineralogia, Paleontologia, História e Arqueologia
Indígena, além de variada coleção de peças avulsas que fizeram a
história da cidade desde a sua fundação.
Para conhecer mais sobre a História de Mossoró visite o blog: www.blogdogemaia.com.
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