Essa semana o RN testemunhou o caso da linda menina que precisava ir a
recife para um transplante de coração. Sem jeito e com pouca fé a família se
apoiou no médico que, dilacerado pela dor da criança, usou a sua patente
brasileira de doutor e agiu enviando, para as tais redes sociais um apelo para esta
jovem. De repente esse apelo viraliza e todos comentam, compartilham, curtem e
de um nobre médico corre por centenas de milhares de anônimos atingindo outros
tantos. Todos, ou grande parte, compadecida da dor da família, outros por
modinha, então resolveram participar dessa corrente imaginária de pedir pela
vida da menina.
Das redes sociais para a TV e de repente as autoridades tomam pé do
assunto e numa tentativa desesperada de fazer uma agenda positiva correm para
garantir a transferência da menina. O carnaval foi feito, filmado e
compartilhado na TV e nas ilustríssimas redes sociais, a menina enfim foi
levada, e com a poeira baixando não deixaram de surgir histórias de heróis
anônimos, policiais, médicos, enfermeiros e pessoas maravilhosas que deram o
seu quinhão de participação nessa comovente saga da menina que queria um
coração.
Quando a musica parou veio à tona a reflexão: Quantas meninas esperando
um coração têm por ai? Quantas pessoas desesperadas por um medicamento, um
exame, uma cirurgia estão nos corredores de hospitais ou em casa desamparadas
sem poder levar sua vida normal? Como atender tantas pessoas carentes,
desinformadas que não tem o tal valente e carinhoso doutor para pedir,
encarecidamente, ao Exmo Presidente da República, aquele que deveria atender e
responder os anseios dos pobres compatriotas, as redes sociais para que a
comoção gerasse energia movedora de autoridades e assim os problemas fossem
resolvidos.
A sociedade ficará refém das mídias sociais para resolver seus
problemas? Desse modo, mesmo sem dinheiro, poucos serão afortunados de caírem
nas graças dos milhares de anônimos que gastam seu tempo em compartilhar
histórias de desconhecidos que precisam de ajuda. Será que somente através
desse tipo de mobilização a segurança pode melhorar? Somente expondo de casa em
casa, ou melhor, falando de celular em celular poderá a sociedade resolver seus
anseios sem precisar de seus representantes nas câmaras, assembleias e
congresso?
Esta reflexão não pode tirar o brilho de uma ação como a que foi vista.
Essa menina conseguiu fazer seu transplante. Uma linda vida que tem todo seu
tempo a frente foi salva. Isso não tem preço. Mas aqueles que não tiveram a
graça de ser escolhido pelas mídias sociais estão à margem de terem seus
problemas resolvidos e essa mesma sociedade, nem que seja pelas mídias sociais,
tem que levar essa reflexão adiante. Não se pode simplesmente ignorar e deixar
que os sorteados dessa grande roda gigante das redes sociais sejam os únicos
beneficiados. Se isso acontecer à desigualdade só tende a aumentar.
Roberto James
Administrador de Empresas
Consultor de negócios
Mestrando em Psicologia
Comportamento do Consumidor
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