O município de Serra do Mel, no Rio Grande do Norte, atravessa um de seus períodos mais prósperos em termos de arrecadação, mas o aumento expressivo de recursos não tem se traduzido em melhorias reais para a população. Em fevereiro deste ano, R$ 300 milchegaram aos cofres da prefeitura por meio de emenda parlamentar do senador Styvenson Valentim, voltada à área da saúde. A cifra, significativa, é apenas uma fração de um volume crescente de verbas públicas que têm irrigado a cidade sem, no entanto, encontrar um retorno visível nas políticas públicas essenciais.
A evolução dos repasses por emendas parlamentares impressiona: R$ 631 mil em 2022, R$ 2,6 milhões em 2023, e mais de R$ 2,8 milhões até o fim do mesmo ano. Isso sem contar os robustos royalties do petróleo e gás, que garantem à prefeitura uma receita extra contínua. No papel, Serra do Mel tem todos os recursos necessários para transformar sua realidade social e estrutural. Na prática, o que se vê é uma cidade com demandas básicas não atendidas e uma gestão que parece desorientada ou deliberadamente omissa.
A disparidade entre a arrecadação crescente e a precariedade nos serviços públicos é alarmante. Com tanto dinheiro em caixa, seria razoável esperar melhorias concretas em áreas como saúde, educação, infraestrutura e assistência social. No entanto, moradores continuam enfrentando filas, falta de medicamentos, ruas esburacadas e escolas em condições precárias. Onde está o investimento proporcional à fortuna que o município tem recebido?
Parte da resposta para esse enigma pode estar na ausência de uma fiscalização firme e atuante. A Câmara de Vereadores de Serra do Mel, que deveria ser a guardiã do interesse público e o contraponto natural ao Executivo, mantém-se silenciosa. A falta de iniciativas concretas para cobrar transparência e priorização dos recursos revela uma preocupante cumplicidade ou, no mínimo, uma omissão imperdoável. É inadmissível que, diante de cifras milionárias, os representantes do povo escolham o conforto da passividade.
O risco de que esse dinheiro se perca em obras eleitoreiras, contratos obscuros ou ações inócuas é real e urgente. Sem vigilância institucional e pressão popular, os recursos públicos correm o sério risco de servirem apenas como moeda de barganha política. Investimentos sem planejamento, superfaturamento e prioridades distorcidas tendem a crescer quando o dinheiro é farto e a cobrança é escassa.
O momento exige, mais do que nunca, coragem política e compromisso com a população. Serra do Mel não precisa apenas de dinheiro ela precisa de líderes íntegros, gestores competentes e vereadores que saibam para quem realmente trabalham. O verdadeiro desenvolvimento de uma cidade começa pela honestidade com que se administra cada centavo público e pela responsabilidade com que se constrói cada decisão.
O cenário atual de Serra do Mel é um teste claro para suas instituições democráticas. O dinheiro está disponível. O que falta é transparência, prioridade, fiscalização e, sobretudo, respeito ao cidadão. Sem esses pilares, os milhões recebidos se transformarão apenas em números e não em dignidade, progresso ou justiça social. E isso, no fim das contas, é o maior desperdício de todos.
Pendências New
Nenhum comentário:
Postar um comentário